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FUTILIDADE – A historia do ketchup

No dia 11 de outubro de 1924, a Heinz realizou uma ação de marketing de fazer inveja a qualquer empresa de hoje. Sem internet, ela organizou 62 banquetes simultâneos em diferentes cidades dos EUA, Canadá, Inglaterra e Escócia. Foram 10 mil pratos servidos ao mesmo tempo, graças a um sistema de comunicação via rádio e alto-falantes sincronizados. O dia, que ficou conhecido como Golden Day (“Dia Dourado”, em inglês), contou até com a transmissão de um discurso do então presidente americano, John Calvin Coolidge, por telefone.

Roberto Seba/Superinteressante

O jornalista Jean-Baptiste Malet, em seu livro O Império do Ouro Vermelho, sobre a história da indústria do tomate, sintetiza o auê: “O frasco de ketchup, ao lado da garrafa da Coca-Cola, é um dos símbolos mais famosos da americanização do mundo”.

Olhando assim, é difícil imaginar que esse condimento tradicionalmente americano, na verdade, não nasceu nos EUA – nem levava tomate. A história do ketchup tem partes na Ásia, na Europa, no continente americano, e todos esses lugares ajudaram a moldar o molho vermelho que você coloca em cima da batata frita – ou da pizza, para os mais hereges.

MADE IN VIETNÃ
A jornada do ketchup começa por volta de 300 a.C., na região onde hoje é o Vietnã. É nessa época que surgem os primeiros registros de um molho fermentado de peixe e soja. Seu nome? Kê-tsiap, que na língua hokkien (dialeto chinês falado também em outras partes do Sudeste Asiático) quer dizer algo como “salmoura de peixe em conserva”.

O kê-tsiap era um condimento popular, e não demorou para que ele se espalhasse Ásia afora. No século 18, os ingleses entraram em contato com ele na região da Indonésia, onde os britânicos possuíam colônias. Eles ficaram fascinados com o produto e com sua capacidade de “turbinar” os pratos com seu sabor marcante. Decidiram, então, levar a ideia para a Europa.

De volta à terra da Rainha, os ingleses se depararam com um problema: não havia soja por lá. A solução foi adaptar o molho testando uma série de outros ingredientes: cogumelos, feijões, anchovas, nozes, ostras… A primeira receita publicada na Inglaterra é de 1727. Para se fazer o “katshop” (olha a grafia mudando), era preciso itens como vinagre e vinho branco, gengibre, pimenta e casca de limão.

O molho foi um sucesso por conta de sua durabilidade – numa época em que a conservação de alimentos era difícil, isso era fundamental. O ketchup possuía várias versões de acordo com seus ingredientes, e era usado para tudo que precisasse de um tempero extra, como carnes, peixes e pães. Conta-se que a escritora Jane Austen (Orgulho e Preconceito) era uma consumidora fiel do katshop de cogumelos.

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA
O ketchup à base de tomate foi inventado em 1812, na Filadélfia, pelo cientista e horticultor James Mease. Sua receita levava polpa de tomate, conhaque e algumas especiarias. Mas havia um problema. Como a polpa era um produto perecível, o novo ketchup ia na contramão dos seus parentes europeus, que se popularizaram justamente pela sua durabilidade nas despensas.

A solução para quem fabricava foi encher o produto de conservantes. Os primeiros estudos sobre o ketchup identificaram níveis preocupantes de alcatrão de hulha (para realçar a cor avermelhada) e benzoato de sódio (para prolongar a data de validade). Acontece que, no final do século 19, já se sabia que esses produtos faziam mal à saúde. Um dos maiores críticos a esses aditivos era o químico Harvey Washington Wiley.

Wiley defendia que conservantes do tipo não eram necessários se os fabricantes usassem ingredientes de alta qualidade. Um fabricante de ketchup decidiu encampar a briga de Wiley: Henry John Heinz.

Heinz ia na contramão dos outros empresários da época e, assim como Wiley, também acreditava na regulação alimentícia. Em vez de aditivos, sua receita de ketchup levava tomates mais maduros para dar cor ao molho, além de uma quantidade de vinagre bem mais alta que o normal – o que conservaria o condimento.

Deu certo: naquele ano, o ketchup da Heinz foi uma das sensações da famosa Exposição Universal, que rolou na Filadélfia. E chamou mais atenção que outras invenções que estavam ali, como um certo telefone.

Em 1897, as indústrias da Heinz em Pittsburgh possuíam linhas de produção, com tarefas divididas e que começavam a ser automatizadas. Tudo isso 11 anos antes das linhas de montagem do Ford Modelo T –o ketchup foi fordista antes de Henry Ford.

Por SuperInteressante.

 

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