O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) afirma ter realizado 23 invasões de propriedades rurais, secretarias de Agricultura e uma fazenda experimental de universidade desde 1º de abril. Até o momento, o ritmo é acelerado e equivale a 2,5 ações por dia.
De acordo com o grupo, a chamada Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, ação conhecida popularmente como Abril Vermelho, se estenderá até o dia 17.

‘Governo permissivo’
Em nota divulgada nesta semana, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) ressaltou que acompanha o tema com a máxima atenção. “A ameaça à segurança jurídica no campo compromete a produção agropecuária nacional e coloca em risco a integridade física e patrimonial dos produtores rurais e de suas famílias”, diz o texto.
Neste mês, integrantes do MST invadiram propriedades no Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
Pernambuco
Na manhã do último sábado (5), milhares de pessoas invadiram a Companhia Agroindustrial de Goiana (Caig), conhecida como Usina Santa Teresa, localizada no extremo norte pernambucano. A empresa produz álcool e açúcar, mas o movimento reivindica o território para fins de reforma agrária.
No mesmo dia, centenas de integrantes adentraram a Fazenda Galdino, de 500 hectares, em Riacho das Almas, para criar assentamentos rurais. Ainda no sábado, à noite, a Fazenda Barra da Ribeira, de 400 hectares, localizada entre Águas Belas e Iati foi invadida pelo grupo.
Já no domingo (6), invasores ocuparam a Fazenda CopaFruit, propriedade de 500 hectares, em Petrolina (PE). O local está em fase de desapropriação e o MST quer evitar que seja leiloado.
No mesmo dia, cerca de mil pessoas invadiram a Fazenda Boi Caju, em Tacaratu, sul de Pernambuco. Em seguida, a Fazenda Mandioca, em Altinho e Ibirajuba, no Agreste Central do estado, foi alvo dos integrantes do MST.
Ainda na manhã de domingo, centenas de integrantes do movimento apossaram-se da Fazenda Brasil, na região serrana de Gravatá, município que já conta com outros seis assentamentos do grupo.
Já na segunda-feira (7), duas usinas foram invadidas pelo movimento: a Usina Nossa Senhora do Carmo, no município de Pombos, e a Usina Santa Pânfila, fundada em 1918. De acordo com o grupo, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconhece o potencial dessas terras para fins de reforma agrária, mas os processos nesse sentido não foram realizados.
No mesmo dia, a bandeira vermelha do MST foi fincada no engenho São Manoel, em Rio Formoso. A área possui mais de 800 hectares e preserva cerca de 500 hectares de mata nativa.
Rio Grande do Norte
Pela primeira vez, o MST invadiu uma propriedade do Rio Grande do Norte durante o Abril Vermelho. Cerca de mil integrantes invadiram a fazenda experimental da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), no município de Mossoró.
Em resposta, a instituição afirmou que o gabinete da reitoria abriu diálogo com o movimento para articular um desfecho pacífico e garantir a integridade patrimonial da universidade.
Paraíba

Na madrugada de domingo, centenas de integrantes invadiram a Fazenda Carvalho, em Solânea, no Brejo paraibano. No dia seguinte, foi a vez de uma granja de Santa Rita, na Região Metropolitana de João Pessoa, ser alvo do grupo, que reivindica as terras da Fazenda Olho D’água do Rangel, área com cerca de 1.600 hectares.
Ainda na segunda, centenas de pessoas ligadas ao MST invadiram parte da Fazenda Nossa Senhora de Fátima, no município de Tacima. A área ocupada corresponde a aproximadamente 150 hectares de um total de 290.
Na ocasião, a Polícia Militar e o proprietário estiveram presentes, além de representantes do Incra para mediar o conflito. As últimas informações dão conta que o grupo permanece no local.
Ceará
Na madrugada de segunda-feira, cerca de 700 agricultores organizados pelo MST invadiram a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), em Fortaleza. Após conversas e a presença do secretario do órgão, a ação foi finalizada de forma pacífica na terça-feira (8).
Minas Gerais
Na madrugada do último sábado (5), integrantes do MST invadiram uma área às margens da BR-116, em Frei Inocêncio, no Vale do Rio Doce. A ação reivindica a desapropriação da quase centenária Fazenda Rancho Grande, produtora de café, para criação de assentamento.
São Paulo
Na madrugada da última segunda, milhares de integrantes invadiram a Usina São José, em Rio das Pedras, interior paulista. Segundo o grupo, a ação ocorreu em resposta à morte de 250 mil peixes no Rio Piracicaba, em julho de 2024, ocasionada pelas atividades da empresa, que a fez perder a licença de suas atividades. A Polícia Militar do estado agiu e despejou o grupo.
Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro também não passou impune às ações do grupo. Integrantes invadiram as terras da Fazenda Santa Luzia, na Usina Sapucaia, em Campos dos Goytacazes. Comandada pelo vice-prefeito do município, a Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro), dona da usina, está em processo de recuperação judicial.
Goiás

Cerca de 1.500 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Distrito Federal e Entorno (MST-DFE) invadiram a Fazenda São Paulo, em Água Fria de Goiás.
Ainda na segunda-feira, o grupo ocupou a Superintendência Regional do Incra em Goiás, na capital Goiânia, para pressionar por regularização de territórios e assentamento às famílias acampadas no estado.
Por Victor Faverin | Canal Rural.