Na busca pela expansão das áreas sob domínio, as facções criminosas têm se infiltrado em atividades lícitas. Na Amazônia Legal, que abrange Mato Grosso, a mineração tem sido um dos principais setores prejudicados pelas ações ilícitas das organizações criminosas, cada vez mais atraídas pelo valor do ouro e pela alta lucratividade do setor. As terras indígenas (TIs) e as unidades de conservação são as mais afetadas.
Essa realidade foi relatada, hoje (3), pelo governador Mauro Mendes (União) em entrevista à Rádio BandNews. “Já houve grandes operações, já foi noticiado pela mídia brasileira que o crime organizado entrou no transporte coletivo, comprou postos de gasolina, entrou em diversas atividades econômicas, as chamadas ‘atividades cinzas’, que em si não são ilegais, mas estão sendo controladas por esses bandidos como forma de lavar dinheiro, mas também como forma de ganhar dinheiro”, disse.
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Na região amazônica, essa infiltração é verificada no setor da mineração. “Aqui na Amazônia brasileira descobriram a mineração como grande negócio. No meu Estado, temos realizadas diversas operações e, tenho que reconhecer que a Polícia Federal (PF) e Ibama estão atuando, mas é assim: vai lá, fica 30 dias de atuação e consegue dissipar, mas vira as costas, vai embora, no outro dia os caras voltam”, afirmou.
Ao controlar as áreas, os criminosos extorquem os garimpeiros. “Eles (criminosos) chegam e dominam esses garimpos, cobram dos garimpeiros 10%, o ouro está valendo muito, compram (o metal) mais barato que o valor de bolsa, já ganham 20% e ali, passam a controlar e ter um grande lucro econômico, além de lavar dinheiro porque um quilinho de ouro vale mais de R$ 600 mil. Aí, você transporta quilos em dois ou três bolsos e leva dois, três quilos para qualquer lugar do Brasil e, se bobear, até do mundo”, relatou.
OPERAÇÃO PRIMATUS – Exemplo disso foi verificado, em setembro passado, quando a Polícia Civil de Mato Grosso deflagrou a operação “Primatus” para desarticular um grupo formado por membros de uma facção criminosa, que comandava um esquema de tráfico de drogas e outro de extorsão a garimpeiros e compradores de ouro em Aripuanã (1002 km a Noroeste de Cuiabá).
De acordo com informações da PC, parte da facção vinha extorquindo compradores de ouro, garimpeiros e proprietários de áreas de extração de minério na cidade. Por meio de grave ameaça, os criminosos estavam cobrando até 2% sobre a comercialização de ouro e na venda de áreas de exploração na região.
Contudo, Mendes pondera que o Estado precisa reorganizar a estratégia de combate às organizações criminosas para não perder a guerra contra elas. “Mas, é verdade, eles (bandidos) estão muito inseridos nessa atividade ligada a mineração em toda a Amazônia brasileira, com muitos pontos onde estão tendo esse tipo de atividade econômica. Eles entram e, ali ganham muito dinheiro”, destacou.
TERRA INDÍGENAS – No Estado, a atuação ilegal de garimpeiros tem afetado sobremaneira as terras indígenas, onde a atividade de exploração mineral é ilegal. No entanto, o fator de ser ilegal não tem impedido garimpeiros de invadirem áreas já demarcadas, contaminando rios e gerando enormes conflitos, além de usurparem das riquezas do país, que deixa de arrecadar.
Já um levantamento divulgado pelo Fórum Nacional de Segurança Pública (FNSP), em 2023, identificou a presença de integrantes de organizações em 178 de 772 municípios que fazem parte da Amazônia. São 22 facções que disputam territórios em todos os estados do bioma, mas não há um grupo considerado hegemônico, conforme o estudo “Cartografias da Violência na Amazônia”.
Na ocasião, a TI Yanomami, em Roraima, era uma das afetadas pela atividade clandestina. Em outubro deste ano, o Governo Federal informou que, devido as operações de desintrusão, houve uma redução de 98% dos alertas de garimpo no território.
Porém, os garimpeiros ilegais deslocaram-se para outras áreas, a exemplo da TI Sararé, em Pontes e Lacerda (420 km ao Oeste de Cuiabá), onde aumentou expressivamente a devastação ambiental causada pela busca clandestina pelo ouro.
Por Diário de Cuiabá.