
Os primeiros anos foram difíceis. Arlindo se dividia entre a lavoura e o trabalho com caminhão para equilibrar as finanças. “Eu comecei o plantio aprendendo como fazer, passamos várias dificuldades, altos e baixos em planos agrícolas e em preço de produto, produtividade e adequação de semente. Na época nós trouxemos sementes de soja até do Rio Grande do Sul. Nunca me esqueço, era tudo muito difícil, plantava 79 hectares e colhia na faixa de 30 a 40 sacas. Porém, os compromissos que a gente fez, eu tinha outras coisas que eu fazia, como o caminhão, e ganhava mais ou menos bem para ajudar a pagar a dívida no banco”, explica.
A dedicação deu frutos. Casado desde 1977, Arlindo se emociona ao falar da esposa, dos filhos Piero e Letícia, e do papel da família em sua trajetória. Hoje, ele e o filho estão juntos na lida do campo. Com um modelo de produção diversificado, eles trabalham com até quatro culturas por ano, como soja, milho, gergelim e a pecuária.
“Graças a Deus, a gente conseguiu evoluir e melhorar, sempre fazendo a coisa certa e com pé no chão. Eu digo para o meu filho que o importante é a gente fazer corretamente. Não adianta, às vezes, querer dar um passo maior e não conseguir atender os compromissos. De lá para cá, as coisas foram mudando e hoje, com a tecnologia, inclusive com tudo que a Aprosoja MT tem feito pelo produtor, temos um conhecimento melhor para poder tocar a lavoura”, salienta.
Entre as lições que aprendeu ao longo da vida, a de honrar os compromissos ele aprendeu com o pai. “Sempre falo que quando for levantar o pé, é importante deixar o rastro limpo. Lembro que em um domingo, perdi o horário de buscar o pai. Quando eu acordei, já eram 8h10 e a missa era às 8h. Eu peguei um fusca amarelo que eu tinha, dirigi cinco quadras e o pai já estava vindo. Quando eu parei o fusca, falei: ‘Pai, eu lhe levo à missa’. Ele olhou para mim e disse assim: ‘Não precisa, agora eu vou a pé’. Essa foi a surra que eu tomei do meu pai, você vê como a gente tinha vergonha na cara. Hoje eu vejo muitos filhos que pegam outros rumos, mas é bom quando um pai tem os filhos que acompanham, os filhos dizendo ‘eu te amo’ e a gente também”, recorda emocionado.
Tudo o que vivenciou ao longo de sua história fez com que atingisse suas conquistas pessoais, mas também, agregasse em entidades locais e do setor agrícola, contribuindo para que o Vale do Araguaia deixasse de ser o Vale dos Esquecidos. Entre tantas lidas, foi presidente do sindicato rural do município e 2º diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT). “Em tantos anos de Canarana eu fui uma pessoa que quis agradecer aquilo que eu conquistei aqui. Então, em todas essas coisas, aprendi e troquei muitas ideias com pessoas de outros locais. Isso foi motivando, abre a cabeça, dá força para continuar e por isso nós estamos aqui. Eu pensava que, após sair das entidades, eu iria arrendar a minha terra, mas nós arrendamos a do Piero e ficamos aqui. Eu não quis arrendar porque eu preferi ficar, exatamente por ter a família junto ajudando”, conta.
Para Arlindo uma de suas maiores alegrias é saber que construiu um legado junto à família que permanecerá para as próximas gerações. “Minha esposa, meu filho e minha filha são meus braços direitos. Isso me deixa feliz e orgulhoso por saber que vai ter continuidade. Tem tanta coisa que marca a vida da gente, mas o que mais me marcou foi ter vindo para um local onde a gente não sabia o que iria encontrar e o que fazer, pois eu mexia com madeireira. Essas coisas vão deixando a gente chegar a encarar e tem que encarar, porque ou você encara ou volta para aquilo que você saiu, mas eu quero crescer. Então, o que mais me marcou é a família ter ficado unida e a gente ter, graças a Deus, vencido. Acredito que isso é o mais importante, a persistência”, finaliza.
Aos 70 anos, o produtor Arlindo Cancian é um dos exemplos de que o desenvolvimento se constrói com o suor, a humildade e as raízes firmes no campo, com a missão de contribuir com a sociedade através da produção de alimentos.
Por Vitória Kehl Araujo | Aprosoja-MT.