CANARANA – No ano em que Canarana completa 50 anos da chegada dos pioneiros sulistas, OPioneiro traz uma entrevista com um dos comandantes que fez parte da equipe que pilotava as aeronaves da Coopercol/Coopercana, ainda na década de 1970. Uma dessas aeronaves é o DC3 com o prefixo PP-YPU, que repousa na Praça Siegfried Roewer, em Canarana, conhecida como a Praça do Avião, tombada como patrimônio estadual.
Hoje com 72 anos, residente em Erechim-RS, Carlos Marquardt, pais de três filhos e avô de duas netas, nos contou suas lembranças dos quatro anos em que pilotou as aeronaves que traziam agricultores do Rio Grande do Sul para as terras do cerrado de Mato Grosso, de onde surgiram prósperas cidades como Canarana, Água Boa, Querência e, mais ao norte, Terra Nova. Ele acumulou 1.400 horas/voo no DC3.
Marquardt entrou para a Escola de Aviação em 1968, aos 19 anos. Aos 22 anos começou a ganhar a vida pilotando aeronaves, inicialmente em empresas de táxi aéreo. Em 1975 ele foi convidado para compor a tripulação como freelance num voo de DC3 que partiria de Carazinho-RS para Aragarças-GO, com uma parada em Presidente Prudente-SP, durando aproximadamente 5h30. Foi seu primeiro voo no PP-YPU.
“Nesse voo, além de agricultores, tinha um passageiro ilustre, Norberto Schwantes, o qual durante o almoço me convidou para trabalhar na empresa. Aceitei feliz o convite. Continuar voando aquele magnifico avião e fazer parte daquele importante momento histórico de colonização dos gaúchos em terras mato-grossenses era irrecusável”, disse Carlos.
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Conforme o comandante, havia esperança em cada rosto dos agricultores que vinham para o Mato Grosso: “Em nossos voos transportávamos agricultores que pouca terra dispunham para tirar o sustento para a família. Em busca de nova vida, aceitaram o convite de Norberto para conhecer a imensidão do cerrado mato-grossense e, em especial Canarana. Víamos em cada rosto dos passageiros, um ar de ansiedade e um sorriso de esperança”.
Para Marquardt, Norberto Schwantes, o idealizador da colonização dessa região, foi um homem de estrema coragem e determinação: “Norberto Schwantes foi admirável como líder deste empreendimento, demonstrando coragem e determinação e, como pastor, cumpriu com seu propósito de levar os seus fiéis a um futuro melhor em terras do Mato Grosso”.
Viajando agora em suas memórias, o comandante se recorda de um fato inusitado durante um dos voos do DC3. Um dos passageiros abriu a porta de emergência durante o voo para jogar a bagana de cigarro fora: “O barulho e o susto foram imensos. O DC3 estava com velocidade de aproximadamente 300 km/h. Reduzi imediatamente a velocidade e a janela foi fechada pelo nosso mecânico de voo Arnold. O passageiro retornou para o sul via terrestre”.
Sobre voar num DC3, o comandante disse que era uma aeronave forte, resistente a fadiga, dócil de pilotar e de fácil manutenção. “Não era exigente com as pistas e mesmo as de terra e que eram curtas e mal preparadas serviam para o nosso trabalho”, contou. Mais de 13 mil desse modelo foram fabricados e alguns voam até hoje.
Os voos ocorreram até o ano de 1979. Ao todo eram quatro aeronaves DC3, três aviões de outros modelos e dois pequenos helicópteros. O PP-YPU parou sua jornada tendo voado mais de 34 mil horas. Seu último voo foi o translado do distrito de Serra Dourada até a cidade Canarana, realizado pelo comandante Ervino Paulo Rescke, com duração de 10 minutos.
Ao todo, Marquardt pilotou por 50 anos. Depois de voar pela colonizadora, pilotou para o Departamento Aeroviário do Estado, Atam Express, NHT, pulverizou lavouras agrícolas e, por último, trabalhou numa aeronave executiva de uma empresa erexinense. Ele acumulou 18 mil horas de voo.
Após décadas, Carlos quer voltar esse ano para Canarana para ver o resultado daquele trabalho. E, também, visitar o DC3 que está na Praça do Avião.
Por Rafael Govari para OPioneiro.
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