Foi na década de 90, quando o cenário econômico nacional apresentou seu período mais caótico dos últimos anos, que muitas cooperativas de crédito surgiram pelo país. A Sicredi Araxingu, por exemplo, foi uma delas! Esse movimento surgiu como uma resposta a uma pergunta que permeava a mente de muitos naquela época: Essa crise tem solução?
Três décadas à frente e vários períodos turbulentos depois, o cooperativismo seguiu crescendo e adentrando em cada vez mais regiões e setores econômicos. Recentemente, uma nova crise surgiu e atingiu em cheio o agronegócio brasileiro, trazendo preocupações para produtores e instituições financeiras em todo o país.
A crise do agro, como vem sendo definida por especialistas, é retratada como uma ressaca dos “dias de ouro” na saída da pandemia, onde a desvalorização cambial e a Selic baixa encorajaram investimentos. Isso fez com que a alavancagem do agro atingisse altos níveis e agora, sob outras condições de mercado, quem fez investimento está tendo que pagar. E a conta não está fechando.
Nesse cenário, enquanto grandes bancos endurecem as condições de crédito, as cooperativas de crédito se destacam como alternativa viável para manter o campo produtivo. Essa é a avaliação de Martim Steffenon, presidente da Sicredi Araxingu, sobre o cenário atual, que também destacou o papel do cooperativismo como caminho para atravessar o momento de turbulência.

Segundo Martim, a crise ainda é agravada por fatores externos e pelo impacto da Resolução 4.966 do Banco Central, que reformulou as regras de análise de risco de crédito a partir de janeiro deste ano para as instituições financeiras. “Essa mudança segue padrões internacionais e torna a concessão de crédito mais rigorosa. Num cenário de crise, isso pesa ainda mais”, explicou.
Flexibilidade e proximidade: o “pulo do gato” das cooperativas
Enquanto os bancos tradicionais adotam posturas mais conservadoras, Steffenon afirma que as cooperativas têm conseguido recompor operações, renegociar prazos e ajustar fluxos de caixa de forma mais próxima à realidade do associado. “O produtor bem intencionado pode sentar com a cooperativa, conversar, reestruturar sua dívida e ajustar o fluxo. Muitas vezes ele não precisa de mais dinheiro, mas de planejamento”, pontuou.
Para o presidente, o momento exige uma mudança de mentalidade entre os produtores, que vinham de um ciclo de preços elevados da soja e agora enfrentam uma realidade bem diferente. “É preciso refazer os cálculos, rever custos e entender que gestão é essencial. O crédito existe, o desafio é a capacidade de pagamento.”
A ideia não é só sobre ajudar o produtor a liquidar as dívidas, mas sim, contribuir para que ele sobreviva à crise. Martim cita que a Sicredi Araxingu mantém equipes especializadas em reestruturação financeira e consultoria gratuita em suas regionais. “Muitos associados nem sabem, mas nós temos estrutura disponível para sentar com eles, refazer contas e buscar soluções. Nosso objetivo é simples: o associado continuar bem.”
Além destes fatores, o impacto indireto das cooperativas em suas comunidades também faz parte deste “pulo do gato”. Um levantamento feito pela FIPE (Fundo Institucional de Pesquisas Econômicas) apontou que em municípios onde o cooperativismo se insere, há redução de famílias que necessitam estar no Cadastro Único, aumento o número de matriculados no Ensino Superior, aumento do PIB per capita e, mais diretamente ligado ao agronegócio, aumento do valor da produção agrícola por hectare.
Cooperativas de produção: chave para o futuro do agro mato-grossense
Ao ampliar a discussão para o campo institucional, o presidente reforçou que o futuro do agro em Mato Grosso depende da expansão do cooperativismo, inclusive de cooperativas de produção. Ele recorda uma reunião recente na OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), onde se discutiu o impacto da reforma tributária:
“Com a mudança, o imposto sobre circulação (ICMS) será gerado no local de consumo, não de produção. Ou seja, o imposto da soja produzida aqui vai para outros lugares, por exemplo. A solução, portanto, é exportar via cooperativas, para que o crédito de imposto volte ao produtor como sobra de resultado.”
Martim defende que cooperativas de crédito e de produção devem atuar de forma complementar; As primeiras no fomento financeiro e as segundas na comercialização, industrialização e armazenagem. “O Mato Grosso precisa fortalecer cooperativas agropecuárias. Essa é a saída sustentável para o campo.”
Liquidez e confiança para a próxima safra
Mesmo em um cenário desafiador, a Sicredi Araxingu, segundo Martim, mantém alta liquidez e capacidade de atender seus associados. A cooperativa também absorveu parte da demanda deixada por 12 instituições financeiras que encerraram atividades na região nos últimos meses. Atualmente a Sicredi Araxingu conta com mais de 105 mil cooperados e uma carteira de crédito de R$ 4 bilhões.
“Nós nos preparamos para esse momento. Seguimos atendendo, fomentando e garantindo crédito aos bons associados que continuam conosco”, explicou. Para o dirigente, o cooperativismo mostra, mais uma vez, que a força coletiva é o melhor antídoto para tempos de incerteza. “O associado indo bem, a cooperativa vai bem. E quando todos se organizam, o agro se fortalece.”
Por Lavousier Machry.