CANARANA – O Estado de Mato Grosso ultrapassou 12 mil casos de Covid-19 e já registrou quase 500 mortes (476 até o dia 25), colocando a estrutura de saúde estadual em seu limite.
Mas apesar dos riscos para toda população, a preocupação é ainda maior para os indígenas, que tendem a ser mais suscetíveis às pandemias, seja pela falta de informação, pela cultura e os hábitos. Lembrando que mesmo entre parte dos moradores da cidade, que possuem instrução e tem consciência dos riscos, as medidas protetivas não são aplicadas.
A Reportagem do OPioneiro fotografou na manhã desta sexta-feira (26/06), na cidade de Canarana, um caminhão lotado de índios Xavante, todos sem máscaras, o que faz com que, havendo um indígena contaminado, são altas as chances de contaminar toda uma aldeia.
A região do Vale do Araguaia/Xingu, é lar dos índios Xavante e de várias etnias que habitam a TIX (Terra Indígena do Xingu). A região, até o dia 24, somava 40 óbitos e mais de 2 mil casos confirmados de coronavírus. Dos 35 municípios do Leste de Mato Grosso, o vírus já tinha chegado em 29 cidades.
Dizimação de aldeias
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A Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), teme pelo extermínio de aldeias em decorrência do coronavírus, como ocorreu com outras epidemias.
Em maio, um bebê de oito meses da etnia Xavante, da terra indígena Marãiwatsédé, em Alto da Boa Vista, neta do cacique, faleceu em decorrência do coronavírus. No dia 13 de junho, um bebê de 45 dias, do povo kalapalo que fica no Xingu, município de Querência, também morreu por Covid-19.
Um dia depois (14), uma auxiliar de enfermagem, Xavante, morreu de Covid-19. No dia 17, morreu um Xavante de 45 anos, que estava internado havia uma semana. Ambos vieram a óbito em Barra do Garças.
Em Canarana, um indígena de 56 anos residente na cidade, morreu de coronavírus no dia 24 de junho. Canarana é a sede do Distrito Sanitário de Saúde Indígena (DSEI), que atende indígenas do Xingu, mas também possui aldeias Xavante em seu território.
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Falta de estrutura
Segundo a ONG Operação Amazônia Nativa (Opan), a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não tem estrutura suficiente para dar conta da pandemia.
Mato Grosso possui 43 povos indígenas, além de nove que estão isolados, vivendo em situação ainda mais vulnerável durante a pandemia, conforme a Fepoimt. Na região do Vale do Araguaia/Xingu, são 22 mil índios Xavante e 6 mil índios do Xingu.
De acordo com dados do Distrito Sanitário de Saúde Indígena (DSEI) Xavante, com sede em Barra do Garças, apenas 8,5% das aldeias contam com uma Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI).
Profissionais da saúde indígena
Dois profissionais que trabalham com saúde indígena na região de Canarana, ouvidos pela reportagem do OPioneiro, disseram sob a condição de anonimato, que é grande a preocupação de que o coronavírus se espalhe pelas aldeias e provoque um grande número de óbitos.
“A alimentação deles não é muito balanceada e a imunidade é menor. Além disso, alguns não acreditam na existência do vírus e não tomam cuidados”, disse uma profissional.
“Em alguns casos quando um indígena é detectado com Covid-19, eles querem ir para a aldeia para ser curado pelo pajé e isso pode infectar todos, porque muitos dormem dentro de uma mesma oca, por exemplo”, disse um profissional ouvido pela reportagem, lembrando, porém, que muitos indígenas tem tomado os cuidados necessários.
Índios ocupam maior parte dos leitos de UTI na Barra
Dos 30 leitos da Unidade de Pronto Atendimento de Barra do Garças (UPA), no dia 22 de junho, 22 leitos eram ocupados por índios Xavante. Além disso, 4 das 8 UTI para Covid-19 no município estavam ocupadas com indígenas
“A Prefeitura elaborou uma cartilha educativa com mais de mil exemplares na língua Xavante para que os indígenas pudessem tomar conhecimento das ações preventivas e todos os cuidados necessários contra o novo coronavírus”, disse a secretária de Saúde de Barra do Garças – Clênia Monteiro.
Hospital de Campanha no Araguaia
Com a compreensão no avanço de contaminação entre os indígenas, o prefeito de Barra do Garças, Roberto Farias, se reuniu no dia 22, por videoconferência, com a bancada federal de Mato Grosso, prefeitos e representantes de entidades ligadas a saúde indígena, para discutir a instalação de um hospital de campanha para enfrentamento de casos da doença nas comunidades indígenas na região.
Na reunião, foi proposta a instalação do hospital em Barra do Garças, Campinápolis ou Água Boa para o atendimento dos indígenas na região do Araguaia. A estrutura seria composta por 10 leitos de UTI e 30 enfermarias destinadas exclusivamente à comunidade indígena.
Por O Pioneiro.