Ser contra a construção da Ferrogrão, a linha férrea que pretende ligar os estados do Mato Grosso e Pará para facilitar o transporte de grãos, não significa defender o meio ambiente.
Essa é a percepção do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil). Para ele, esse posicionamento desconsidera a redução de emissões de carbono na comparação com o transporte rodoviário e impede que a competitividade do agronegócio brasileiro aumente.

“Essas pessoas que se dizem contra a Ferrogrão estão defendendo tudo, menos o meio ambiente. É impossível colocar em uma planilha uma comparação de emissão de carbono que poderíamos ter em uma ferrovia com 2 mil carretas queimando óleo diesel”, disse ele durante o painel “Agronegócio e segurança alimentar global: desafios para a cooperação” do XIII Fórum de Lisboa, promovido no mês passado.
Mendes afirmou que o Brasil, no posto de maior exportador de alimentos do mundo, precisa superar suas dificuldades internas se quiser que sua produção acompanhe o ritmo de crescimento da demanda por alimentos nas próximas décadas.
A principal fragilidade seria a dependência por fertilizantes importados, mas aspectos de infraestrutura e logística precisam ser debatidos com a mesma urgência, diz o governador.
“O Brasil teima em não buscar soluções adequadas para viabilizar uma metodologia mais eficiente para que tenhamos mais competitividade no agronegócio”, afirmou.
Economia e sustentabilidade
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber, também participou do painel e destacou a importância da ferrovia para a economia mato-grossense.
“Se ela fosse implantada, mais de R$ 8 bilhões ficariam dentro do estado do Mato Grosso, (que) seriam economizados de frete, o que traria mais riqueza e prestação de serviços públicos à população do estado. E, acima de tudo, na emissão de carbono. 3,4 milhões de toneladas por ano a menos seriam emitidas. Ou seja, uma grande aliada da sustentabilidade”, afirmou.
Já a deputada estadual mato-grossense Janaína Riva (MDB) falou sobre conciliação entre preservação ambiental e o avanço da produção agropecuária. Segundo ela, o estado, que é o maior produtor de grãos do país, tem 60% de sua área “intacta”. Essa harmonia, sustenta, passa pela elaboração de políticas adequadas.
“A defesa da produção sustentável vai muito além do campo e passa necessariamente pelo Parlamento. Dentro da Assembleia, nossa missão tem sido garantir que o produtor que cumpre a lei não seja punido”, disse.
Por fim, o professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Marcos Marrafon sugeriu olhar o tema da segurança alimentar sob o ponto de vista do direito fundamental.
“A interpretação do Direito e da Constituição tem que ser pensada enquanto unidade e equilíbrio entre o desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento econômico e, especialmente, a garantia de segurança alimentar enquanto fundamento da dignidade da pessoa humana.”
Por Conjur.