A Bíblia não faz nenhuma referência às botas de Judas Iscariotes, o apóstolo que, de acordo com os relatos do Novo Testamento, entregou Jesus Cristo aos guardas romanos em troca de 30 moedas de prata – e depois, arrependido, acabou se enforcando, depois de devolver as moedas aos sacerdotes, que compraram um terreno com seu dinheiro, que ficaria conhecido como o Campo de Sangue.
A confusão começou na Idade Média, quando ninguém lia a Bíblia. Ou, melhor dizendo, ninguém lia – exceto pelos padres e nobres (e nem todos), a população era analfabeta. Assim surgiam lendas sobre personagens bíblicos. Uma dessas é que o traidor escondeu o dinheiro em suas botas. E esse tesouro nunca foi encontrado. Daí que “onde Judas perdeu as botas” faz referência a um local difícil de ser encontrado.
Note que isso contradiz a narrativa dos evangelhos, na qual o dinheiro nunca foi perdido. E a lógica, porque as botas da época, diferente das medievais, eram abertas e deixariam escapar tudo. “Muitas vezes, algumas expressões idiomáticas ganham corpo baseadas em crenças da religiosidade popular, sem ter tradição bíblica ou teológica”, diz Josias da Costa Júnior, mestre em Ciências da Religião da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Por Aventuras da História.