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Opinião: Violência contra a mulher: A naturalização estruturante de uma sociedade – Por Josiane Porsch

10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. No Brasil é realizada a campanha Setembro Amarelo, em alusão ao combate ao suicídio.Inicio este texto trazendo dados do Atlas da Violência 2020, produzido pelo IPEA-Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Tais dados referem-se ao período de 2008 a 2018, considerando as informações mais recentes tabuladas pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e divulgadas no site do Departamento de Informática do SUS – DATASUS. Neste período, foram assassinadas 628.595 pessoas, sendo 8,0% mulheres. Em 2018, 4.519 mulheres foram assassinadas, uma taxa de 4,3 por 100 mil habitantes, o que representa que a cada 2 horas 1 mulher é assassinada no Brasil. 

Com esta introdução, passo a discutir sobre tão relevante e atual tema que dia após dia aparece estampada em noticiários de todo o país, a Violência Contra a Mulher. Afinal, o que acontece com esses homens de hoje? Muitos devem se perguntar. Loucura? Descontrole emocional? Efeito do álcool e drogas? Estresse? Desemprego? Vou além. Cultura, machismo, sociedade patriarcal, processo histórico, desigualdade de gênero. 

Podemos afirmar sem sombra de dúvidas, que, fatores como, o uso de álcool e outras drogas; estresse; desemprego; descontrole emocional, por parte do autor da agressão, não são a causa, mas justificativas socialmente aceitas para que as mulheres continuem a sofrer violência. Os verdadeiros motivos ou causas que levam a mulher ser uma presa fácil da agressão estão na constituição desigual dos lugares de homens e mulheres na sociedade, a imperiosa desigualdade de gênero, que traz implicações não somente nos papéis sociais do masculino e feminino e nos comportamentos sexuais, mas também em uma relação de poder. Significa dizer que a desigualdade é estrutural, ou seja, social, histórica e culturalmente a sociedade designa às mulheres um lugar de submissão e menor poder em relação aos homens. Traduzindo, a grande causa da violência contra a mulher está no machismo estruturante da sociedade brasileira. Para comprovar esta constatação, basta que analisemos como se dá educação de meninas e meninos ainda nos dias de hoje, em que tarefas domésticas são prioritariamente designadas às meninas. É comum que mulheres, mesmo em cargos de poder, sejam assediadas de uma forma que homens não são; um homem sentir ciúmes de sua mulher, controlando a roupa e certas condutas é considerado “normal” e até entendido como “cuidado” e “proteção”; é comum que vítimas de violência sejam questionadas nas suas atitudes quando, na verdade, são vítimas. 

Todos estes fatores criaram ao longo de décadas, rígidos estereótipos do que é “ser homem” e “ser mulher” e, desconstruir esse processo histórico e conceitos tão arraigados em nossa sociedade, depende de uma rede de enfrentamento, com a união e atuação articulada entre instituições, serviços governamentais, não-governamentais e a comunidade, visando ao desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção e de políticas que garantam o empoderamento das mulheres e seus direitos humanos, a responsabilização dos homens autores de agressão e a assistência qualificada às mulheres em situação de violência. Também de suma importância, a organização da rede de atendimento é imprescindível, sendo o conjunto de ações e serviços de diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança pública e da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento; à identificação e ao encaminhamento adequado das mulheres em situação de violência e à integralidade e humanização do atendimento.

Outro ponto, não menos importante, ao falarmos sobre rede de atendimento, é que se faz urgente a articulação do olhar sobre o autor da violência. A culpa e responsabilização pela agressão apenas não bastam para que cesse a violência contra a mulher. É imperioso o olhar a este homem, sua história, seus conceitos e valores sobre seu papel de homem, fatores que o levam a estar agredindo sua companheira, amiga, mãe, irmã. A Lei Maria da Penha, em seu artigo 22 faz referência ao encaminhamento do autor da agressão a programas de recuperação e reeducação. Tais programas visam incluir este homem em grupos de reflexão e apoio psicossocial, no intuito de que tenham a oportunidade de reavaliar suas condutas e ressignificar suas atitudes e comportamentos, diminuindo a reincidência de casos.

Desta forma, a melhor forma de combate e prevenção a violência contra a mulher, com certeza está na educação, com a formação de meninas e meninos baseada na equidade de gênero e capacidade de diálogo, buscando formas de masculinidade não focada na agressividade e negação a tudo que é feminino.

Por Josiane de O. M. Pörsch.

Psicóloga – Universidade Mackenzie (São Paulo)

Pós-Graduada em Psicologia Hospitalar – ICHC-FMUSP

Pós-Graduada em Educação Especial Inclusiva – UNOPAR

Pós-Graduada em Saúde da Família – Escola de Saúde Pública do Estado do MT

Pós-Graduada em Gestão Pública – IFMT

Pós-Graduanda em Psicologia e Coaching – Faculdades Metropolitanas

Coach de Emagrecimento pelo: Profissão Coach Express e Health Coach International Institute

*As opiniões expressas pelos colunistas não refletem a opinião do OPioneiro, sendo o autor do texto, responsável pelo conteúdo.

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