CANARANA – O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, participou de uma visita técnica ao projeto de turismo de pesca esportiva da Associação Pequizal Naruvôtu, na Terra Indígena (TI) de mesmo nome, localizada nas cidades de Canarana e Gaúcha do Norte, estado de Mato Grosso. O objetivo da visita foi conhecer em detalhes a iniciativa, que é referência no segmento. O projeto de pesca esportiva na região é desenvolvido em parceria entre os indígenas e o setor privado, com apoio da Funai.
“Fiquei muito entusiasmado com tudo o que vi aqui. Trata-se de um projeto ambientalmente correto, executado com muita responsabilidade e que traz o protagonismo dos indígenas para as atividades de turismo. A Funai apoia iniciativas como essa, que tem um potencial enorme para levar dignidade às aldeias”, frisou o presidente da Funai.
Morada das etnias Kalapalo e Naruvôtu, a Terra Indígena Pequizal Naruvôtu integra o Parque do Xingu e abriga rica região pesqueira. No projeto de pesca esportiva, a circulação dos turistas se restringe à zona de pesca, sem qualquer contato com a aldeia. Xavier visitou a área a qual os turistas têm acesso nos dias 22 e 23 deste mês. Entre os pontos de destaque, está a confluência dos rios Sete de Setembro e Kuluene, os quais formam o Rio Xingu, uma área considerada sagrada pelos indígenas Narovôtu.
Consultor de pesca esportiva da Funai, Kelvin Lopes acompanhou o presidente na visita técnica. Segundo ele, a experiência é baseada no “pesque e solte”, ou seja, todos os peixes capturados são devolvidos à água para que sigam seu ciclo natural de vida. São espécies comuns na região a cachara, piraíba, cachorra, jaú, matrinchã, tucunaré e curvina, entre outros.
“No passado, esta área era acometida por atividades exploratórias irregulares, o que provocou a redução do número de espécies aquáticas. A partir do projeto de turismo de pesca esportiva, verificamos uma recuperação significativa da população de peixes na região. Além disso, a presença dos turistas, com acompanhamento dos indígenas e do setor privado, afasta a exploração ilegal. Como consequência, temos geração de renda para a população local, preservação ambiental e incremento da gestão territorial. É um cenário em que todos ganham. Temos aqui um case de sucesso”, pontua Lopes.
Para Xavier, o crescente interesse das comunidades indígenas no desenvolvimento e regularização da atividade é o que motiva os esforços da Funai em acompanhar e apoiar essas iniciativas. “A fundação está aberta ao diálogo e empenhada em incentivar atividades sustentáveis nas Terras Indígenas para promover a autonomia das diferentes etnias, sempre com respeito aos usos, costumes e tradições, no intuito de promover a autossuficiência dos indígenas”, enfatizou o presidente.
A iniciativa de base comunitária foi criada em 2017 e tem se mostrado essencial para os indígenas da região, já que os valores gerados se destinam à compra de equipamentos para as aldeias, alimentação, melhorias na infraestrutura da TI e apoio financeiro a outras etnias.
Mazinho Kalapalo, que desenvolve o projeto em parceria com a pousada Recanto do Xingu, explica que os lucros obtidos com a atividade possibilitaram à etnia realizar uma série de melhorias na área indígena. “O projeto de pesca esportiva nos permitiu estruturar a aldeia. Com os recursos, compramos carro, barco, motor, gerador e placa solar. Também instalamos internet na aldeia. Nossa vida melhorou muito depois que o projeto começou”, ressalta.
Lopes explica que o sucesso da experiência também se deve à presença da Funai em todas as fases do processo, desde a sua criação. “O cacique Mazinho, logo de início, solicitou o apoio técnico da Funai, o que fez com que o projeto já nascesse à luz da Instrução Normativa nº 3. O cumprimento de todas as exigências reforça que o caminho da regularização desse tipo de atividade turística se mostra muito interessante para os indígenas, para o operador de turismo e para a Funai, que está proporcionando a gestão de um incremento econômico sustentável aos indígenas”.
Além da pesca esportiva, outros projetos exitosos são desenvolvidos pela aldeia, a exemplo da produção e comercialização de alimentos, como pequi, castanha de baru, banana e mandioca. “Estes projetos permitem nossa independência e a melhoria das condições de vida na aldeia Naruvôtu”, afirma Mazinho.
Medidas preventivas
Tendo em vista o avanço da vacinação dos indígenas contra a covid-19, as atividades turísticas em TIs estão sendo retomadas gradativamente mediante protocolos sanitários específicos. Entre as exigências, está a realização de exame PCR e apresentação da carteirinha de vacinação.
As medidas foram estabelecidas após análise, pela Funai e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), quanto à viabilidade da continuidade de projetos de turismo de pequeno porte nas Terras Indígenas. Foi autorizado o prosseguimento dos projetos desde que observados os protocolos sanitários definidos pelas autoridades competentes em nível local, regional e/ou nacional, e também levando-se em consideração o respeito à autonomia dos indígenas.
Por Assessoria de Comunicação/Funai.