Durante períodos de repressão severa, aqueles que ainda desejavam exercer sua liberdade de expressão precisaram tomar medidas drásticas. Começando em 1550, por exemplo, o contrabando da Bíblia Sagrada em países sob regimes ditatoriais, atingiu seu ápice na década de 1960 durante a Missão do Leste Europeu. Ao longo do regime nazista de Adolf Hitler, a resistência chegou a contrabandear livros enterrados em bolos para não serem pegos.
Na União Soviética da década de 1950, uma das épocas de maior tensão, isso não foi muito diferente, visto que a censura estatal estava em pleno vigor, e seu alvo foi a música ocidental, que mudou o mundo naqueles anos com o nascimento do rock em todas as suas formas e estilos.
Mas os soviéticos não queriam que aquele tipo de influência repleta de um sentimento de rebeldia e individualismo contaminasse os ideais pregados por eles, acarretando futuros problemas para o governo. Contudo, os amantes da música arranjaram uma maneira de burlar as autoridades.
Radiografias da História
Foi Stephen Coates, vocalista da banda britânica The Real Tuesday Weld, que descobriu a história durante uma parada turística em São Petersburgo, capital russa, quando um item chamou sua atenção em um brechó de rua. “Eu pensei: ‘Isso é um disco ou um raio-X?’. Peguei e parecia ser os dois”, revelou ele em entrevista à NPR.
O músico revelou que o dono do local desdenhou e pediu para que ele comprasse outra coisa, mas Coates insistiu e adquiriu o disco de vinil estranho. Obcecado, ele foi fundo para descobrir do que aquilo se tratava e chegou no mercado de contrabando de discos LPs gravados em radiografias, usadas durante a censura da União Soviética de 1950.
Tudo teria começado com os stilaygi, algo como “caçadores de estilos”, que reviraram lixeiras hospitalares em busca de radiografias descartadas para compor as finas folhas de um disco vinil. Com um cortador de disco de cera, eles duplicavam a gravação na radiografia, usavam um torno de corte de disco para transferir a mídia para a ranhura em espiral, cortavam o disco à mão, depois queimavam o buraco no centro com um cigarro.
O resultado foram gravações sobre imagens em raio-X de braços, crânios, costelas, pulmões e outros órgãos, dando à prática o apelido de “registros de ossos” ou “música de ossos” (do inglês bone music).
Para além da qualidade
“Os discos até têm algo gravado neles, mas o som é muito fraco porque a mídia é rasa. Ele toca a 78 RPM, e é apenas unilateral”, revelou ao repórter Michael Martin da NPR. Mas Coates disse que a qualidade não é tão ruim, considerando como os vinis foram feitos, ainda que alguns sejam praticamente inaudíveis.
Inseridos em um contexto quase igual ao enredo escrito por Ben Belton para o musical We Will Rock You, com músicas da banda Queen, o que motivava esses jovens era a adrenalina de ouvir algo proibido, nem que fosse apenas um fio da melodia, portanto, a qualidade era o que menos importava.
“A última vez que estive em Moscou, entrevistei um homem que costumava comprar esses discos durante a proibição soviética”, disse Coates ao The Guardian. “Ele colocou um no toca-discos e só era possível ouvir estática com uma música bem baixa. Mesmo assim, o homem estava radiante, porque isso o levava de volta à primeira vez que ouviu a gravação”.
Em seu livro X-Ray Audio: The Strange Story of Soviet Music on the Bone, publicado em 2015, Coates ressaltou que era essa emoção, além de qualquer qualidade, que fez os jovens e amantes da música naquela época enxergarem um mundo diferente, onde havia liberdade.
“Os discos até têm algo gravado neles, mas o som é muito fraco porque a mídia é rasa. Ele toca a 78 RPM, e é apenas unilateral”, revelou ao repórter Michael Martin da NPR. Mas Coates disse que a qualidade não é tão ruim, considerando como os vinis foram feitos, ainda que alguns sejam praticamente inaudíveis.
Inseridos em um contexto quase igual ao enredo escrito por Ben Belton para o musical We Will Rock You, com músicas da banda Queen, o que motivava esses jovens era a adrenalina de ouvir algo proibido, nem que fosse apenas um fio da melodia, portanto, a qualidade era o que menos importava.
“A última vez que estive em Moscou, entrevistei um homem que costumava comprar esses discos durante a proibição soviética”, disse Coates ao The Guardian. “Ele colocou um no toca-discos e só era possível ouvir estática com uma música bem baixa. Mesmo assim, o homem estava radiante, porque isso o levava de volta à primeira vez que ouviu a gravação”.
Em seu livro X-Ray Audio: The Strange Story of Soviet Music on the Bone, publicado em 2015, Coates ressaltou que era essa emoção, além de qualquer qualidade, que fez os jovens e amantes da música naquela época enxergarem um mundo diferente, onde havia liberdade.
Fonte: MegaCurioso.