quinta-feira, 18 abril, 2024
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Projeto desenvolvido no Xingu refloresta 180 hectares de Áreas de Preservação Permanente

SANTA CRUZ DO XINGU – Plantar florestas para combater as mudanças climáticas. Esse é o mote do projeto Carbono Nascentes do Xingu, uma iniciativa de restauração florestal do Instituto Socioambiental (ISA). O projeto, que nasceu em parceria com a empresa Natura, está compensando parte das emissões de carbono da sua produção por meio dos plantios.

Zona reflorestada em Santa Cruz do Xingu, no Mato Grosso, pelo projeto Carbono das Nascentes do Xingu; Foto – Ricardo Abad/ISA.

Entre os dias 1 e 8 de novembro, será feita uma auditoria para atestar que as áreas de floresta contratadas estão crescendo de acordo com o planejado. O processo é praxe em projetos de sequestro de carbono certificados.

A restauração acontece desde 2011 em Santa Cruz do Xingu (MT) em Áreas de Preservação Permanente, como as nascentes do Rio Xingu, e em áreas de Reserva Legal degradadas. Tratam-se de áreas nas quais os proprietários rurais são obrigados a manter a floresta em pé.

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Ao todo, já foram restaurados 181,8 hectares, que sequestraram 33.418,32 toneladas de CO2. Até 2041, a expectativa é a de que 61.533t de CO2 sejam sequestradas.

“Ao olhar hoje os resultados que estamos encontrando durante os monitoramentos dessas áreas e o tanto que esse projeto apoiou no fortalecimento da Rede de Sementes do Xingu (RSX), vemos que valeu muito a pena todo o esforço feito no passado”, afirma Guilherme Pompiano, do ISA.

Essa região do Mato Grosso já foi uma grande floresta até meados do século 20. Com a expansão do agronegócio na região nas últimas décadas, grande parte das florestas foi convertida em plantações de commodities, incluindo áreas nas nascentes do Rio Xingu.

Por obrigações legais ou em busca de compensação de carbono, muitos fazendeiros procuram o ISA para restaurar as áreas degradadas. Para crescer, as árvores absorvem grandes quantidades de carbono, até mais, comparativamente, do que áreas de floresta já consolidadas.

Em um primeiro contrato, o ISA, o Instituto Centro de Vida (ICV) e o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) restauraram 116 hectares para compensar as emissões da empresa Natura por meio de créditos de carbono gerados.

O segundo contrato foi feito entre Natura, ISA e Associação Xingu Sustentável (AXS), formada por produtores rurais de Santa Cruz do Xingu (MT), e previa a restauração de 181,1 hectares. O terceiro projeto, no qual o ISA entrou como parceiro, ficou sob inteira responsabilidade da AXS, envolvendo a restauração de 220 hectares.

“A certificação do processo era condicionante para que o projeto acontecesse”, explica o secretário-executivo do ISA, Rodrigo Junqueira. “Tem a ver com a entrega dos créditos de carbono, mas não só, porque deve levar em conta também relações justas e igualitárias com a comunidade, além de geração de renda e os aspectos relacionados com a biodiversidade”.

O projeto em questão já foi certificado em 2016 pela Rainforest Alliance pelo padrão CCB (Clima, Comunidades e Biodiversidade).

Muvuca

O plantio de florestas nativas se dá por meio da muvuca de sementes. O método de plantio é a semeadura direta, em que as sementes de uma gama variada de espécies nativas são lançadas diretamente na terra. Essas sementes são adquiridas da Rede de Sementes do Xingu, a maior rede de sementes nativas do Brasil, que trabalha com a coleta e venda de sementes nativas da Amazônia e do Cerrado.

Para a muvuca, o cálculo de quantas sementes de cada espécie serão plantadas envolve uma conta complexa: cada espécie tem uma porcentagem de germinação e de sobrevivência a partir do número de sementes plantadas. É essa matemática que vai definir o número de sementes necessárias para plantar determinada área.

No projeto da Natura já foram plantadas mais de 13 toneladas de sementes nativas e de adubações verdes.

Cada espécie tem uma função no plantio: o feijão de porco, o feijão guandu, a crotalária, o fedegoso e a abóbora, por exemplo, são as primeiras a nascer, matando o capim e fixando o nitrogênio no solo, processo necessário para fertilizar a terra. Depois vêm as pioneiras: lobeira, mamoninha, carvoeiro, caju, entre outras e só então as árvores maiores como o jatobá e a copaíba, por exemplo.

Hoje, 10 anos após o plantio, já é possível ver uma floresta com diferentes estratos, onde antigamente era uma área degradada.

Área de Preservação Permanente em processo de restauro há 5 anos, na Fazenda Cristo Rei, Canarana MT; Foto – Ricardo Abad/ISA.

“A gente captura carbono porque a gente planta árvores, e não o contrário. Capturar carbono de qualquer maneira, com eucaliptus e pinus, é possível. Mas a gente promove a restauração gerando renda para as famílias que compõem a Rede de Sementes do Xingu e plantando biodiversidade, já que são 80 espécies plantadas e estabelecidas”, afirma Junqueira.

“Existe um conjunto de benefícios relacionados ao clima, à floresta e às pessoas envolvidas nessa operação”, conclui.

Por Clara Roman – Jornalista do Instituto Socioambiental (ISA).

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