Em 2 de março de 1973, sob um dos barracos de lona da então Vila Sucuri, na região que futuramente ficaria conhecida como Canarana – MT, os filhos dos recém chegados pioneiros gaúchos tiveram as primeiras aulas em solo mato-grossense.
Marco do início da educação no que um dia viria a se tornar um dos municípios mais produtivos do Brasil, a data é lembrada por poucos, sem deixar, no entanto, de trazer lembranças a quem viveu aquela época. Aliás, a data precisa foi estabelecida pela migrante Margarida Büller Ziech, a primeira professora do município. As primeiras aulas foram custeadas pela Coopercool (Cooperativa de Colonização 31 de Março Ltda).
48 anos depois, o então barraco de lona deu lugar a uma escola que já instruiu gerações, e hoje é lembrada como a primeira instituição de ensino de Canarana, conhecida atualmente como Escola Estadual 31 de Março (em homenagem à colonizadora). Nesse quase meio século de história, o local das aulas se alterou diversas vezes e as histórias de alunos da época se confundem com a própria história do município.
Logo após o início das atividades na década de 70, com a decisão de criar o projeto para emancipação local, as aulas foram transferidas para o que viria a ser a zona urbana atual. “Depois de um tempo, foi construída uma estrutura em madeira, num local, entre o que é hoje a Sicredi e a Águas Canarana. E nas agrovilas os pais construíram em madeira, um local para atender as crianças do 1º ao 4º ano”, lembra Roselia Kehl Araújo, filha do pioneiro Anatólio Kehl, que começou a frequentar as aulas na classe, dois anos depois, em 1975.
Até 1974, a escola funcionava até a 7º série e tinha como professores, além de Margarida, conforme documentos históricos, Anita Klock, Sueli Dunk, Verena Oster, Isabel Corrêa, Marli Dunk Magni, Selmira Punte, Gilda Roewer, Hildo Reincke, Eberhart Güsmann e Gisela Güsmann.
“Eu comecei a frequentar a escola, na extensão da primeira agrovila, no primeiro momento só como aluna “encostada”, (assim diziam na época quando criança ainda sem idade escolar pretendiam ir na escola). Nossa escola era no meio da praça da primeira agrovila em frente ao Clube Ouro Verde, pois ali era o centro da Vila. Ali estudavam os alunos do 1º ao 4º ano moradores da localidade” explica Roselia.
“Quando fui para a 5ª série, já precisei fazer os seis quilômetros a pé, pois o ‘ginásio’ era só na cidade. Não tinha ônibus ou lotação. Saíamos de casa às 10:30h da manhã, já ‘almoçados’, para chegar até às 13h na escola. No trajeto tinha muito cerrado e vários cajuzinhos (nativos), assim como pés de coqueiro, e a colheita era disputada pelos estudantes que utilizavam o caminho”, lembra Roselia, hoje com 51 anos e empresária de Canarana.
Autorizada a funcionar oficialmente como escola desde junho de 74, em 06 de maio de 1976, a escola foi oficialmente criada e nomeada como Escola Estadual 31 de Março, pelo então Governador José Garcia Neto. Desde então, a instituição se manteve como um personagem central da história de desenvolvimento local.
“A escola sempre foi referência quanto ao ensino de qualidade. Muitos estudantes que passaram pela unidade, hoje, são professores, profissionais liberais, funcionários públicos atuantes na sociedade deste município e de outros”, salienta a atual diretora Juciani Alves Freitas, que complementa dizendo que “a escola tem um marco histórico importantíssimo para a população canaranense, tanto para os profissionais que trabalharam, tanto para os que ainda atuam na unidade”.
“Foi a escola que nos proporcionou ter um círculo social, conhecer jovens de todos os lugares que aqui vieram com seus pais para buscar um futuro melhor, {…} sempre em busca do conhecimento e desenvolvimento, pois o aprendizado não termina nunca” complementa Roselia.
Em 2016 o prédio da escola que por 40 anos ajudou milhares de alunos a concluir os estudos básicos, devido a problemas estruturais, foi demolido. “Quando a escola foi interditada a escola contava com 28 salas de aulas que funcionavam no período matutino e vespertino, com um total de 813 alunos”, lembra a diretora. Em 2019 um novo prédio começou a ser construído no mesmo local do antigo, com recursos oriundos de um convênio entre governo municipal e estadual.
O novo prédio possui 16 salas de aula, e deve comportar aproximadamente 896 alunos, no período matutino e vespertino. A previsão de entrega da obra pronta é ainda em 2021. “Estamos aguardando ansiosamente pelo término da construção, pois os profissionais têm certeza que a escola voltará a ser como antes: um ambiente educativo, agradável, confortável, acolhedor, capaz de receber os estudantes com dignidade e, que possibilite a eles melhores condições de aprendizagem. Que os pais sintam-se orgulhosos em ter seus filhos estudando em uma escola pública de qualidade e com conforto”, diz Juciani.
Qualidade e conforto reconhecida por quem acompanhou a evolução da instituição, como Rosélia, que conclui dizendo: “Sou muito grata pelas pessoas que sempre estavam envolvidas na nossa escola. Ali recebemos o reforço de uma ótima educação, a qual nossos pais também estavam sempre se dedicando”.
Por Lavousier Machry, para o OPioneiro.