CANARANA – A cidade de Canarana receberá em breve o terceiro linhão de energia interligado ao sistema nacional, prometendo diminuir as quedas e oscilações. Mas há menos de duas décadas não existia nenhum linhão e a energia era gerada por uma usina térmica.
Mesmo com dois linhões, atualmente ainda ocorrem constantes oscilações na rede, o que levam alguns moradores a suscitar o retorno da Usina Térmica de Canarana, que gerava energia através de motores a diesel e funcionou por cerca de 20 anos.
O Pioneiro entrevistou um dos técnicos da antiga usina, Mauri Novotny, hoje com 52 anos e que contou alguns detalhes curiosos daquele sistema.
A Usina Térmica de Canarana funcionou por cerca de 20 anos, entre o início da década de 1980 até 2002, quando chegou o primeiro linhão.
Mauri entrou na empresa de energia no ano de 1988, com 19 anos. Na época, a empresa pertencia ao Governo do Estado de Mato Grosso e se chamava Centrais Elétricas Mato-grossenses (Cemat).
Mauri veio de Três de Maio-RS para Canarana em 1985 para trabalhar com agricultura em uma terra recém adquirida pelo seu pai. Quando entrou na empresa em 1988 ainda estava cursando o antigo 2º Grau (Ensino Médio).
Conforme Mauri, até 1988 a energia era distribuída das 6h00 da manhã até as 2h00 da madrugada. Das 2h00 às 6h00 a cidade ficava literalmente no escuro.
“Em época de verão, que chovia, até era fresquinho, mas quando chegava agosto e setembro, era um calorão danado pra dormir. Quando a energia era desligada, o ventilador parava e os mosquitos apareciam”, lembra Novotny.
Em 1988, quando a cidade ainda era pequena, dois motores pequenos davam conta da demanda. Em 1995 eram 16 motores. À noite, quando a demanda aumentava, exigindo mais energia, era comum boa parte dos moradores ouvirem o barulho das máquinas.
“Naquela época dava muito mais problemas do que hoje. Quando uma ou duas máquinas quebravam, um setor da cidade ficava sem energia”, conta Mauri.
Em 1996 os motores pequenos foram substituídos por dois motores grandes, que chegavam a consumir 23 mil litros de óleo diesel por dia, o que tornava a energia cara.
“O preço da energia naquela época já seguia uma tabela nacional, mas o que arrecadava em Canarana cobria só 60% dos custos, os outros 40% eram arcados pelo Governo do Estado. Isso que naquela época o preço do diesel era menor que hoje”, ressalta.
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No ano 2000 foi iniciada a construção da sequência do linhão de Água Boa para Canarana. Em março de 2002, Canarana passou a ser abastecida por energia do linhão e as máquinas foram desligadas, mas, por sorte, não foram levadas embora.
“Num dia faltou energia porque deu um temporal entre Serra Dourada e Canarana e derrubou seis torres. O encarregado de Barra do Garças me ligou e disse que teríamos de voltar a funcionar os motores, que geraram energia por mais 90 dias. Foi a sorte”, lembra Novotny.
Daqui, as máquinas foram levadas para Querência e depois para outros municípios do Norte Araguaia, até que todas as cidades foram interligadas pelo linhão.
Depois de 2002, Mauri não quis ir para outra cidade e decidiu sair da empresa, se dedicando, desde então, exclusivamente à agricultura. O mesmo aconteceu com a maioria dois oito técnicos que trabalhavam na Usina Térmica de Canarana.
Passados quase 20 anos do fim da usina, as oscilações ainda são recorrentes, principalmente no período de chuva e os preços da energia ainda geram muita reclamação, mas Mauri salienta que os problemas hoje são muito menores que antigamente.
Se a energia vinha há algumas décadas de motores a diesel e hoje quase que exclusivamente das hidrelétricas, a bola da vez agora é a energia solar, mais limpa e mais barata. Independente de como é gerada, é impensável hoje viver sem ela.
Por Rafael Govari e Lavousier Machry/O Pioneiro.