CANARANA – O vírus Covid-19 se alastrou até se tornar uma pandemia oficializada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 11 de março de 2020. Os integrantes da Rede de Sementes do Xingu, com sede em Canarana – MT, não saíram incólumes das dificuldades impostas pela pandemia.
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Em junho, uma das coletoras anciãs, Mônica Rênhinhai’õ, do grupo Pi’õ Romnhá Ma’ubu’mrõiwa (Mulheres Coletoras de Sementes, na língua akwén, do povo Xavante), morreu depois de quase dois meses lutando contra o coronavírus em um pronto-socorro de Barra do Garças (MT).
Entre os diversos povos indígenas do alto e baixo Xingu, a morte de líderes importantes desestabilizou a organização social de todos os povos habitantes do Território Indígena do Xingu (TIX). Foi o caso de Aritana Yawalapiti, cacique de enorme influência diplomática no Alto Xingu, morto por Covid-19 em agosto.
De acordo com dados levantados pelo Instituto Socioambiental, até o dia 23 de dezembro, foram registrados 46 óbitos por coronavírus nos territórios Xavante, e 14 mortos entre os povos do TIX.
Ainda que em luto, em meio às ameaças e incertezas, com isolamento e adaptações, os grupos que compõem essa rede foram capazes de coletar 19 toneladas de 112 espécies de sementes nativas diferentes, gerando uma renda de R$ 436 mil em 2020. Entre as espécies mais colhidas, estão jatobá-da-mata, caju, pequi-do-xingu, cajazinho, urucum, tamboril, buriti, mamoninha, baru e copaíba.
Bruna Ferreira, diretora da ARSX, diz que em 2020, foram construídos caminhos estratégicos para que as atividades geradoras de renda às comunidades não parassem. Esses caminhos estratégicos levaram à organização da Rede para agir com respostas rápidas em relação à prevenção do vírus entre os coletores; ao estabelecimento de outros canais de comunicação e apoio entre pessoas; e para que houvesse uma estabilidade mínima de produção e renda, já que a demanda externa por restauração diminuiu com a pandemia.
Em 2021, a Rede completa 14 anos de atuação nas regiões das bacias dos rios Xingu, Araguaia e Teles Pires, com 568 coletores distribuídos por 24 grupos de coletas localizados em 21 municípios, 16 assentamentos rurais de agricultores familiares, e 26 aldeias de três terras indígenas. Junto com parceiros, ao longo desses 14 anos, a ARSX já espalhou pelo solo 262 toneladas de sementes de mais de 220 espécies de plantas nativas, movimentando ao todo R$ 4,4 milhões nas comunidades.
Enfrentando situações de desafios ampliados pela pandemia, e apoiando-se no fortalecimento dos trabalhos em cooperação, esses caminhos estratégicos seguem sendo construídos pela ARSX, na esperança gerada pela missão de colaborar com a recuperação da vegetação nativa e diversa nos territórios degradados do Cerrado e da Amazônia. Em julho, esse trabalho – inclusive o de resposta rápida no enfrentamento à pandemia – foi reconhecido e premiado no Ashden Awards, prêmio internacional para soluções climáticas.
Demandas externas caem 57%
Outro impacto da pandemia na Rede de Sementes em 2020 deu-se com a queda de 57% do volume de encomendas externas de sementes nativas para restauração ecológica. Em 2019, a ARSX recebeu 14 encomendas que geraram uma demanda de produção de 33 toneladas de sementes. O ano de 2020 terminou com 40 encomendas menores que, somadas, demandaram a produção de apenas 14 toneladas.
Já prevendo essa queda, a própria Associação Rede de Sementes do Xingu, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), fez logo no início de 2020 uma grande encomenda de 21,5 toneladas de sementes, que cobriu toda a produção anual, e ainda possibilitou a formação de um estoque de sementes estratégico, com cinco toneladas, para 2021.
Das 19 toneladas de sementes produzidas este ano, 13 já foram vendidas e encaminhadas para as áreas estratégicas de restauração ecológica, como nascentes de rios, nos biomas Cerrado e Amazônia.
Por Redação OPioneiro a partir do texto de Ludmilla Balduino publicado no site da ARSX.