Para todas as atrocidades cometidas no mundo por meio de mentes diabolicamente brilhantes, que inventam desde bombas atômicas até maneiras de estudar a mente humana usando seres vivos em experimentos abomináveis, sempre existe um “paciente zero”. Há sempre aquela cobaia que deu início a uma ideia despretensiosa sendo vítima dela ou inspirando a mente por trás dela.
Ainda em 1929, quando a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto eram apenas um futuro remoto, Adolf Hitler já decretava em uma conferência do Partido Nazista, em Nuremberg, que seu desejo era purificar a raça humana, a começar pela eliminação de bebês e crianças nascidos com qualquer tipo de deficiência. Seu objetivo era uma raça ariana, pura, que se remetesse às raízes germânicas, mas, principalmente, que fosse geneticamente perfeita.
Muito embora esse desejo tenha partido de sua mente doentia, foi um casal de pais, inspirados por esse discurso considerado “revolucionário” para época, que implementou a ideia mais mortal de todos os tempos.
O paciente zero
Em 20 de fevereiro de 1939, nasceu em Pomssen, uma vila a sudeste de Leipzig (Alemanha), o bebê Gerhard Kretschmar, filho de Richard e Lina Kretschamar, trabalhadores agrícolas, ambos devotos dos discursos nazistas pregados por Hitler.
O pequeno Gerhard teve a infelicidade de nascer cego, sem uma das pernas, com apenas um braço e vítima de convulsões gravíssimas. Seu pai, Richard, o levou até o Dr. Werner Catel, pediatra da Clínica Infantil da Universidade de Leipzig, e fez um pedido incomum ao profissional: ele queria que seu filho fosse “colocado para dormir”.
Contudo, o Dr. Catel se recusou a realizar o procedimento de eutanásia porque era considerado ilegal. Sendo assim, Richard escreveu diretamente a Hitler implorando para que revogasse a lei que impedia “este monstro”, como descreveu o próprio filho, fosse morto.
A carta foi encaminhada ao secretariado privado de Hitler, na época chefiado por Philipp Bouhler, um dos chefes da chancelaria, e Hans Hefelman, chefe do departamento que tratava de petições.
O começo do fim
Os dois oficiais mostraram a petição a Hitler, que convocou seu médico pessoal, Karl Brandt, e mandou que ele viajasse até Leipzig para investigar o caso Kretschmar. Se a criança realmente fosse tão “defeituosa” como descrita pelo pai na carta, então Brandt tinha seu aval para aplicar a eutanásia.
Apesar de saberem que a medida era ilegal, os médicos da cidade concordaram com as instruções dadas por Hitler e permitiram que o bebê fosse executado. Em 25 de julho de 1939, às portas da Segunda Guerra Mundial na Europa, Gerhard Kretschmar, com apenas 5 meses, foi eutanasiado, embora os registros da igreja de Pomssen indiquem que ele tenha morrido de “fraqueza no coração”.
Acredita-se que a criança tenha sido injetada com luminal em uma clínica de Leipzig, sendo sua certidão de óbito uma falsificação fabricada por Brandt em conluio com a igreja. Três dias depois, o menino foi enterrado no cemitério luterano.
Foi aquela carta que despertou em Brandt e Bouhler a ideia de instaurarem um programa que visava assassinar todas as crianças nascidas com malformações físicas, idiotia, mongolismo ou paralisia cerebral, qualquer tipo de síndromes, microcefalia e hidrocefalia em toda a Alemanha.
O decreto que implementava a Ação T4, como foi nomeado o genocídio, foi circulado pelo Ministério do Interior do Terceiro Reich, ordenando que todos os profissionais e estabelecimentos de saúde pública ou privada denunciassem os casos de crianças menores de 3 anos nascidas com algum tipo de anomalia física e mental.
Assim foi o início da primeira parte do Holocausto.
Fonte: MegaCurioso