CANARANA – A história que você vai ler nas próximas linhas talvez seja diferente de tudo o que você já ouviu. No dia 26 de julho de 2009, Antônio Luiz Ribeiro, que trabalhava com gado em uma fazenda na região do Culuene, interior de Canarana-MT, saiu da vila em um carro Ford Scort em direção à fazenda, levando consigo três filhos: Marcos com 11 anos (conhecido por Abidal), Werles com 13 anos e Cesar com 14 anos.
Próximo do bar da Dona Zélia, na MT-020, na época estrada de chão, Antônio Luiz avistou uma guarnição da polícia fazendo abordagens. Como não possuía habilitação, se assustou e acelerou o veículo. A história continua com um acidente que deixou uma vítima fatal e Antônio Luiz desaparecendo a pé, sem nunca mais ter sido encontrado. Quem nos contou essa história foi Abidal, hoje com 23 anos, que trabalha como classificador de grãos.
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Conforme Marcos, ele lembra que um de seus irmãos falou para seu pai que ninguém estava perseguindo, com o intuito de fazer ele diminuir a velocidade. Antônio Luiz perdeu o controle do veículo, que capotou várias vezes. Após o acidente, o pai tirou os três filhos de dentro do carro. “Acordei com meu irmão Cesar no meu colo, com vários ferimentos na cabeça. Também lembro de ver meu pai atravessando a cerca e caminhar até desaparecer”, conta. Após o acidente, o pai nunca mais foi encontrado.
Os policiais foram chamados e vieram ajudar no socorro. Abidal foi encaminhado para o hospital em Canarana. “Lembro de falar que era tudo um sonho e voltei a dormir. Acordei no hospital e fui levado para Cuiabá com poucas chances de sobreviver. Os médicos me deram uma hora de vida. Eu quebrei o crânio em três lugares, meus dentes da frente foram todos quebrados e recebi um corte abaixo do nariz. Porém, passei por várias cirurgias e estava me recuperando bem”, relata.
Quando ainda estava em recuperação, Marcos ficou sabendo da morte do seu irmão Cesar, que veio a óbito no caminho até o hospital em Canarana. “Só fui saber da morte do meu irmão em Cuiabá e comecei a piorar. Mas uma pessoa que conheci no hospital falou que eu tinha um bom coração e que tinha que voltar. De alguma forma aquelas palavras me motivaram e voltei a querer viver”, conta. Seu outro irmão, Werles, teve apenas ferimentos leves.
Abidal foi se olhar novamente no espelho quando retornou para o Culuene, após receber alta em Cuiabá. “No Culuene muita gente estava me esperando. Meu irmão Werles foi o primeiro a me receber e disse que ia dar tudo certo. Entrei para dentro do quarto onde tinha um espelho e foi a primeira vez que me vi, meu rosto cheio de pontos. Começou a passar um filme na minha cabeça de tudo o que tinha acontecido e até então nada de notícia do meu pai”, disse.
Marcos não sabe se seu pai teve ferimentos graves. A família já procurou por Antonio Luiz nas imediações do acidente e em outros lugares, sem sucesso. Porém, ele acredita que seu pai ainda está vivo. “Eu acho que ao ver todos seus filhos ali no chão, ficou apavorado e sumiu. Eu acredito que está por aí, não sei o que se passa na mente dele, mas pela cena que viu no acidente, acho que a culpa o persegue”, acredita.
Abidal disse que nunca falou para o seu pai que o amava. “Se eu pudesse reencontrá-lo, diria para ele o quanto estou com saudades, o quanto eu o amo. Não tenho nenhuma lembrança de falar isso para ele, nem para meu irmão. Também diria que a culpa não é dele”, finaliza. Qualquer informação sobre Antonio Luiz pode ser passada pelo telefone (66) 9.9917-3231.
Por OPioneiro.